04/02/2021 às 00h00min - Atualizada em 04/02/2021 às 00h00min

Alagamentos trazem riscos de contaminação por doenças; especialista dá dicas para evitar problemas

Da Redação
Divulgação
Os moradores da Grande Florianópolis e alguns pontos de Santa Catarina enfrentaram, nos últimos dias, os alagamentos provocados pelas chuvas. Esta situação traz à tona uma preocupação dos moradores e das autoridades de saúde: as doenças provocadas pelo contato com água e alimentos contaminados. O vazamento da Lagoa da Conceição, na semana anterior, por exemplo, trouxe muita preocupação aos moradores da Capital.

O médico infectologista do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago (HU/UFSC), Alexandre Boschiroli, explicou quais são as doenças mais comuns, as situações de risco e como proceder para minimizar possíveis malefícios diante de uma situação de alagamento.

Segundo ele, a necessidade de cuidado não se limita ao período de chuvas e alagamento, pois a água e a lama remanescentes são ricas em micro-organismos que sobrevivem por semanas. Além disso, há o risco de contaminação da rede de abastecimento de água, de acidentes com animais peçonhentos e, principalmente no cenário atual de pandemia, os problemas decorrentes de aglomeração de pessoas em alojamentos, por exemplo.

Boschiroli aponta algumas medidas que podem ser adotadas, como: evitar o contato direto com as águas e, caso seja inevitável o contato, como proteger-se; evitar consumo de água e alimentos contaminados; proteger-se de acidentes com animais peçonhentos; procurar ajuda em postos de saúde em caso de adoecimento; manter a rede de drenagem livre de detritos; e estar em dia com a carteira de vacinação. Veja a entrevista do especialista à UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

Quais são as doenças mais comuns decorrentes destas situações de alagamentos que acontecem com frequência em várias cidades do Brasil?
– Doenças diarreicas por vírus, bactérias (gastroenterites) e doenças parasitárias: Sua ocorrência aumenta com a ingestão de água ou alimentos contaminados. A falta de água ou a contaminação da água da rede de abastecimento e a falta de energia comprometendo a conservação de alimentos, além de precárias condições de higiene em situações de calamidade, favorecem as doenças de disseminação hídrica e alimentar.
– Hepatite A: seu risco aumenta também com a ingestão de água contaminada, da mesma maneira que as gastroenterites.
– Leptospirose: acontece principalmente quando ocorre entrada da bactéria do gênero Leptospira no organismo humano. A contaminação se dá com maior frequência quando há contato da água ou lama contaminada com urina de ratos com a pele com ferimentos (mesmo que imperceptíveis) ou com mucosas como da boca. Os sintomas mais comuns são febre, mal-estar e dores no musculares, podendo evoluir às vezes de forma muito grave e com risco de vida. Esta bactéria pode ficar viva por semanas em ambiente com umidade.
– Doenças respiratórias e meningite: principalmente pela aglomeração de pessoas desalojadas ou desabrigadas, sendo grande preocupação no momento a própria Covid-19.
– Tétano: sua ocorrência fica favorecida devido a ferimentos contaminados em pessoas não imunizadas contra o tétano. Infecções de áreas do corpo feridas também podem ocorrer devido a micro-organismos presentes na água e lama.
– Acidentes com animais peçonhentos: aranhas, escorpiões e cobras, para fugir da enchente, buscam abrigo em lugares secos, inclusive domicílios, aumentando a ocorrência de acidentes.

Como buscar ajuda em caso de apresentar sintomas de uma dessas doenças?

Em caso de adoecimento, como aparecimento de febre, dores no corpo, cefaleia intensa em pessoas que tiveram contato nos 30 dias anteriores com água ou lama de enchentes, deve-se imediatamente procurar a unidade básica de saúde mais próxima ou um serviço de emergência, como uma UPA. Pessoas com diarreia e febre ou cefaleia e vômitos devem também procurar atendimento.

É possível fazer algo em casa para tratar estes sintomas?
Em caso de diarreia na ausência de febre ou mal estar, hidratação é a medida mais importante. Pessoas que tiveram contato direto com água da enchente devem (na presença de febre, mal-estar, dores no corpo) procurar imediatamente um serviço de saúde, pois a leptospirose pode evoluir rapidamente e com gravidade, sendo o diagnóstico e tratamento precoces importantes para uma evolução favorável.

Em uma situação de alagamento na rua, qual deve ser o procedimento?
Evitar ter contato direto com água de enchente. Caso seja necessário entrar em áreas alagadas, proteger pés e mãos com luvas e botas se possível, para evitar a penetração de micro-organismos causadores de doenças. Cuidar com a água e alimentos a serem consumidos. Se a água da torneira estiver alterada sempre filtre e ferva (por 5 minutos) antes de beber e se isto não for possível, trate a água para consumo com hipoclorito de sódio (2,5%).

Para cada litro de água adicionar duas gotas de hipoclorito de sódio e deixar repousar por 30 minutos antes de beber. Recomenda-se lavar e descontaminar a caixa d’água. Ao fazer limpeza de locais afetados, também proteger mãos e pés se possível com luvas e botas de borracha ou sacos plásticos duplos. Desinfetar os pisos com solução de água sanitária na proporção de 2 xícaras das de chá (400ml) desse produto para um balde de 20 litros de água. Cuidar com animais peçonhentos escondidos em casa e ao mover entulhos. Acondicionar lixo em locais altos e evitar acúmulo de entulhos para impedir a presença de ratos.

Qual é a situação após as chuvas? Existem/ riscos que permanecem?
Nos dias que se seguem às chuvas fortes, por causa dos danos causados, as pessoas precisam por vezes limpar ruas, casas e terrenos. A água e a lama remanescentes são ricas em micro-organismos que sobrevivem por semanas, de modo que o contato direto da pele com ferimentos mesmo que imperceptíveis, favorece a penetração de micro-organismos, como o causador da leptospirose.

Outro problema é a contaminação da água distribuída na rede de fornecimento e dos mananciais hídricos, favorecendo principalmente a ocorrência de gastroenterites. A aglomeração de pessoas em alojamentos improvisados ou mesmo em casas de pessoas não afetadas favorece a disseminação de doenças como infecções respiratórias incluindo a Covid-19, meningites, gastroenterites e doenças ditas exantemáticas como o sarampo.
O uso de máscara e a higienização frequente das mãos com água e sabão ou com álcool é importante em circunstâncias de inevitável aglomeração, que venha a ocorrer em situações de calamidade. Os ambientes devem ser mantidos bem ventilados sempre que possível. A pandemia de Covid-19 passou a ser preocupação adicional em situações de calamidade.

Medidas importantes são ajudar a manter a rede de drenagem de água da chuva livre de detritos, evitando jogar lixo em terrenos baldios, nas ruas e nos rios. O acúmulo de lixo e entulhos em locais inadequados favorecem a proliferação de ratos e animais peçonhentos, devendo ser evitado. As pessoas devem sempre ter suas vacinas em dia, conforme as recomendações do programa nacional de imunização, ou seja, devem ter sua carteira vacinal em dia.
 
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