15/08/2022 às 00h00min - Atualizada em 15/08/2022 às 00h00min

Idosos descendentes de ucranianos tentam se descontrair em Centro de Convivência de Palhoça em meio à guerra

Divulgação
Sempre que toma conhecimento das notícias da guerra na Ucrânia, dona Ana Stadnik fica triste, porque lembra das histórias do avô, Basilio Schuta, que fugiu justamente de uma guerra, com apenas 18 anos, e veio parar no Brasil. As atividades proporcionadas pela Prefeitura de Palhoça no Centro de Convivência do Idoso, no Caminho Novo, reaberto neste início de agosto, após um breve recesso de duas semanas, ajudam a passar o tempo, com o pensamento leve e longe das notícias ruins.

Se é que é possível evitar a tristeza do noticiário internacional, a cada novo ataque sofrido pelo povo da terra natal de seus antepassados. “Coisa que eu nunca imaginei, ver guerra nesta época, no nosso tempo. Dói muito na alma da gente. Eu me pergunto todo dia: por que guerra? Destruíram tudo! É muita dor no meu coração, lembrar das histórias do meu vô, que sofreu isso quantos anos atrás, e hoje acontece de novo?”, questiona.

Seu avô, Basilio, pai de sua mãe, Olga, conseguiu fugir da guerra junto com um irmão. Os dois embarcaram em um navio e chegaram até o Brasil. A família toda morreu na Ucrânia. Mais de um século separa as duas histórias, mas a tristeza é a mesma. “Para mim, é muito triste esta guerra, porque me faz lembrar de tudo o que o vovô contava. Ele contava sobre a família dele, que ficou na Ucrânia e morreu na guerra. Minha mãe faleceu há cinco anos e eu fico imaginando, se mamãe estivesse viva, o que ela não iria sentir, sabendo que o pai dela sofreu isso também”, observa.

Seu Basilio se estabeleceu em Itaiópolis (SC), junto com uma grande colônia de ucranianos. Lá, casou-se com Anna Schuta e constituiu uma família. Dona Ana ainda era muito jovem, tinha cerca de 12 anos quando o avô faleceu, mas lembra de algumas histórias que ele contava. “Lembro direitinho que ele contava que conseguiu trazer semente de café no cano de uma espingarda para plantar no Brasil”, narra.

A cultura ucraniana também foi partilhada com os descendentes. A começar pela língua. Dona Ana relata que até os 9 anos de idade, só falava ucraniano – ou ucraíno, a expressão que usa para definir a língua. Aprendeu português na escola, com a ajuda de freiras ucranianas, em um distrito da cidade de Pato Branco (PR), onde nasceu, hoje emancipado, chamado Bom Sucesso do Sul. Aos poucos, acostumou-se a falar a língua materna do país onde nasceu, mas nunca esqueceu o ucraíno, que ainda fala, ocasionalmente, com parentes. Tampouco esquece a cultura do país de seus antepassados. “É muito lindo, o folclore ucraniano. A igreja ucraniana é toda diferente, a missa é diferente, é muito lindo. O padre reza de costas para o público. É inexplicável, eu sou apaixonada, porque me criei na igreja ucraniana e hoje ainda rezo em ucraniano”, garante.

Além disso, dona Ana também sabe preparar pratos típicos da culinária da Ucrânia, como perohê, rolupti e borscht. E também lembra com carinho das datas comemorativas. “A Páscoa da Ucrânia é uma coisa muito linda. A mãe preparava o cesto da Páscoa, tudo muito especial, um pão bem trabalhado, linguiça, raiz forte, que para nós é ‘crem’. Prepara a cesta bem bonita e leva na véspera da Páscoa, bota tudo no corredor e o padre sai benzendo, é muito lindo mesmo”, recorda.

O sonho de conhecer o país de origem ainda é bem vivo em seu coração. Por isso, espera que a guerra acabe logo e que o país de seus antepassados volte a ser o lindo lugar que sempre foi. “Eu queria ver a Ucrânia restabelecida de novo, com toda sua beleza, porque eu sei que é um país muito lindo, e eu tinha muita vontade, ainda, de visitar. Precisamos de paz, de tranquilidade”, receita. 

Centro de Convivência do Idoso

Dona Ana Stadnik é uma frequentadora do Centro de Convivência do Idoso Luzia Arminda Heiderscheidt, um espaço de convivência e lazer inaugurado em 2010 e mantido pela Prefeitura de Palhoça no bairro Caminho Novo (na Rua Padre João Batista Réus).

O centro foi estabelecido pela Secretaria de Assistência Social com o intuito de desenvolver atividades e ações voltadas aos idosos do município. “Nosso objetivo é contribuir para o envelhecimento ativo, saudável e autônomo para a população a partir dos 60 anos, através de atividades que promovam a prevenção ao envelhecimento com qualidade de vida e estimulem a longevidade”, destaca Michelli Macedo, que coordena o Centro de Convivência do Idoso, com o suporte de gestão administrativa da ex-vereadora Maria Rosângela Pratis (Zana).

Atualmente, cerca de 70 idosos participam das atividades oferecidas pelo centro, em parceria com a Fundação Municipal de Esporte e Cultura e com outras instituições – a coordenação está permanentemente em busca de novos parceiros, que propiciem novas opções de recreação e lazer. Dentre as atividades oferecidas atualmente, destacam-se: ginástica, alongamento, massagem, práticas de naturologia e oficina da memória. 

O atendimento é feito de segunda a sexta-feira, das 7h às 13h.

Além do Centro de Convivência, existem, no município, grupos de idosos independentes em diversos bairros e regiões. Em 2022, as atividades estão sendo retomadas de forma gradual, pois ficaram suspensas nos últimos dois anos por conta da pandemia de Covid-19.  

Antes da pandemia, Palhoça possuía 34 grupos de idosos com aproximadamente 1.800 integrantes. Hoje, são 20 grupos ativos, totalizando aproximadamente mil integrantes. “Nosso maior objetivo é resgatarmos os demais grupos, possibilitando aos participantes, momentos de interação, confraternização e lazer”, projeta Micheli. 

No mês de junho, por exemplo, foi organizado o "Arraiá da Melhor Idade", onde aproximadamente 600 idosos estiveram presentes, em um encontro regado a música, comidas típicas das festas juninas e atrações culturais. E no mês de setembro, será feito um grande evento em comemoração ao Dia Nacional do Idoso.

“A Prefeitura de Palhoça, por meio da Secretaria de Assistência Social, está fazendo importantes investimentos para ampliar o atendimento à população da terceira idade. Temos à disposição um ônibus, com estrutura completa para passeios, e o projeto para 2023 é um ônibus com capacidade maior, para atender todas as necessidades de passeios mais longos para os grupos”, informa o secretário de Assistência Social, Mauricio Roque da Silva.

Para o prefeito de Palhoça, Eduardo Freccia, a Prefeitura está permanentemente buscando formas de oferecer mais qualidade de vida aos idosos do município. “Nós temos a Faculdade da Maturidade, na Faculdade Municipal de Palhoça, totalmente voltada para os nossos idosos. Estamos padronizando nossas calçadas, para que não tenham mais dificuldade em caminhar. Também estendemos os benefícios do programa Criança com Visão e criamos o Melhor Idade com Visão, para ofertar óculos gratuitamente aos idosos. E também posso citar o projeto Sorria Palhoça, que concede próteses dentárias gratuitas”, enumera o prefeito. “Então, são várias ações que pensamos para levar qualidade de vida à população da terceira idade, e eu confesso que eu me emociono com os relatos dos nossos idosos nas entregas de óculos ou próteses, o brilho no olho dessas pessoas e o sorriso de felicidade não têm preço”, finaliza Eduardo Freccia. 
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