17/11/2021 às 09h44min - Atualizada em 17/11/2021 às 10h40min

Menos antibióticos e mais controle nos serviços de saúde

Sensibilização dos profissionais de saúde para boas práticas no uso de antibióticos é alvo da SOBRASP na Semana Mundial de Conscientização Antimicrobiana, de 18 a 24/11

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Divulgação Sobrasp
A resistência microbiana surge, em grande parte, nos serviços de saúde, especialmente no ambiente hospitalar, onde é maior o uso de antibióticos. De acordo com dados de 2019 da Avaliação dos Indicadores Nacionais das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) e Resistência Microbiana no Brasil, cerca de 60% das infecções graves da corrente sanguínea em UTIs para adultos, ocorrem por bactérias gram-negativas multirresistentes, o que dificulta o tratamento dessas infecções, aumentando o risco de complicações e desfecho desfavorável.

Na Semana Mundial de Conscientização Antimicrobiana - que acontece anualmente de 18 a 24 de novembro - a Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (SOBRASP) chama a atenção para a importância de reforçar boas práticas, especialmente nos serviços de saúde, que ajudem a frear a resistência microbiana. Todos os anos, 700 mil óbitos são resultados de infecções multirresistentes,
de acordo com
relatório de 2019 da Organização das Nações Unidas (ONU)


“O cenário tende a piorar após a pandemia de Covid-19, visto que o uso de antibióticos em larga escala para os pacientes com infecções provocadas pelo novo coronavírus contribuiu para o aumento de prescrições desnecessárias de antibióticos em todo o mundo”, afirma Claudia Vidal, diretora científica da SOBRASP e médica infectologista do Serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Dados apontam para a prescrição de antimicrobianos em até 100% dos pacientes internados com COVID-19 em Unidades de Terapia Intensiva, embora confirmação de infecção bacteriana secundária tenha variado entre 13,5% e 44% nesta população, o que demonstra uso excessivo de antimicrobianos sem evidência de coinfecção bacteriana, contribuindo para o aumento da resistência microbiana na pandemia COVID-19. Ainda dados nacionais demonstraram o aumento significativo da incidência de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) por bactérias gram-negativas multirresistentes, a exemplo de cepas de Klebsiella pneumoniae resistentes à carbapenêmicos e até 26% de resistência às Polimixinas, no período da pandemia COVID-19.

Destaca-se, também, o impacto negativo da pandemia no tocante às atividades dos programas de gerenciamento do uso de antimicrobianos, cujas atividades reduziram em cerca de 64% nos serviços de saúde no Reino Unido, por exemplo, o que contribuiu sobremaneira para o uso excessivo e inadequado de antimicrobianos no período pandêmico.

Preservar a ação dos antibióticos contra os microrganismos que comumente causam infecções é, segundo Claudia, um dos desafios mais importantes para os
profissionais da saúde. Afinal, as consequências diretas das infecções causadas por microrganismos resistentes aos antimicrobianos são graves, destacando-se o aumento da morbidade e mortalidade, prolongamento da internação hospitalar, aumento de custos para o sistema de saúde e redução do arsenal tecnológico ou falta de opção terapêutica para o tratamento das infecções multirresistentes.


BOAS PRÁTICAS

O controle do surgimento e da disseminação da resistência microbiana no ambiente hospitalar envolve práticas de qualidade e segurança, entre elas:

- Prescrição adequada
A prescrição adequada deve se dar a partir do histórico do paciente, de exames laboratoriais e de comprovação da infecção para o tratamento em questão, a fim de evitar mau uso ou o uso excessivo dos antibióticos. Utilizar o antimicrobiano dirigido para o microrganismo, na dose, intervalo, via de administração e tempo corretos é essencial.

- Higienização das mãos
Principal medida para prevenção de infecções, higienizar as mãos antes e depois de qualquer contato ou procedimento com o paciente é importante para a equipe da saúde, visitantes, acompanhantes e para o próprio paciente. Menos infecções = menos administração de antibióticos = menos resistência microbiana.


- Isolamento e barreiras entre pacientes infectados/colonizados
A adoção de medidas de precaução e isolamento de portadores de microrganismos multirresistentes, se adotadas de forma integral pela equipe assistencial, promovem redução nos índices de morbimortalidade dos pacientes e evitam a propagação no ambiente hospitalar.


Planos nacionais de prevenção e controle
e a saúde única


Claudia destaca a existência do Plano Nacional para a Prevenção e o Controle da Resistência Microbiana nos Serviços de Saúde e da Diretriz Nacional para Elaboração de Programa de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos em Serviços de Saúde, ambos publicados pela Anvisa em 2017,com o objetivo de definir estratégias nacionais para detecção, prevenção e redução da resistência microbiana em serviços de saúde.

“A intensificação do monitoramento das IRAS, e em especial daquelas causadas por micro-organismos multirresistentes em Unidades de Terapia Intensiva no país propiciou o conhecimento do perfil epidemiológico nacional, com vistas à adequação do uso de antimicrobianos pautada nos dados locais e regionais, bem como o estabelecimento de benchmark entre as instituições de saúde no Brasil, promovendo o desenvolvimento de programas efetivos de vigilância e prevenção da disseminação de infecções multirresistentes, favorecendo a formação de equipes multidisciplinares e indicadores relacionados à incidência de multirresistência e consumo de antimicrobianos nessas unidades”, analisa a médica.

O tema também vem sendo tratado no contexto mundial e nacional a partir da abordagem One Health (saúde única) pela Organização Mundial da Saúde (OMS) - o controle sobre o uso de antimicrobianos para a saúde humana, animal e ambiental, com a elaboração do Plano de Ação Nacional para Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos do Brasil (PAN-BR-2018-2022), em convergência com os objetivos definidos pelo Plano de Ação Global sobre Resistência aos Antimicrobianos, da Organização Mundial de Saúde (OMS) em aliança com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), voltados para garantia do uso de medicamentos seguros e eficazes, utilizados de forma responsável e que seja acessível a todos.

Isto porque antibióticos também são utilizados na medicina veterinária, tanto para o tratamento ou prevenção de infecções em animais, e ainda para o crescimento deles. A agricultura e a criação de frutos do mar comercialmente também fazem uso de antibióticos.

Mais recentemente, em 9 de novembro de 2021, foi publicado o Plano de Contingência Nacional para Infecções causadas por Microrganismos Multirresistentes em Serviços de Saúde (PLACON-RM), visando a definição de responsabilidades e atribuições nos níveis federal, Agência Nacional de Vigilância sanitária (ANVISA), Ministério da Saúde, assim como a organização necessária para a prevenção e o controle das infecções por micro-organismos multirresistentes pelos estados/Distrito Federal e serviços de saúde.

“Este é um esforço conjunto pioneiro no Brasil. Esta integração é fundamental para o sucesso de qualquer plano para controle da resistência microbiana. Como Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente, estamos fazendo nossa parte alertando sobre o tema na imprensa e em nossas redes, durante esta Semana Mundial de Conscientização Antimicrobiana. Contamos com o compromisso de cada um para o enfrentamento desse desafio global”, conclui a infectologista. #
 
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